A motivação e os problemas de aprendizagem

A motivação é um elemento de grande importância para a qualidade do envolvimento dos alunos no processo de ensino e aprendizagem. Com motivação, os alunos procuram novos conhecimentos, participam com disposição em tarefas desafiadoras e encontram razões para aprender e melhorar suas capacidades.

Lourenço e Paiva (2010) indicam que o aspecto motivacional pode esclarecer as razões que levam estudantes ao êxito ou fracasso e desinteresse na escola. E para buscar essas razões eles se valeram da Teoria da Atribuição da Causalidade (TAC). 

Esta teoria assume-se como um referencial teórico de grande utilidade, uma vez que permite perceber quais as causas que os alunos atribuem para o êxito e fracasso em diferentes atividades escolares e os seus efeitos na motivação para a aprendizagem, para as emoções e para o seu desempenho acadêmico. (LOURENÇO E PAIVA, 2010, p.134)

A partir do conhecimento de como os alunos atribuem a causa do sucesso e ou do fracasso escolar torna-se possível a implementação de processos de intervenção nos quais as causas inconciliáveis com a motivação e o bom desempenho são revistas e modificadas. Nessa perspectiva, os alunos podem identificar as estratégias que utilizaram, se estas foram adequadas ou não, levando-os assim a compreender corretamente a situação apesar de seu empenho no processo de aprendizagem. 

Conforme os autores há a existência de dois grupos de alunos assim classificados: o primeiro composto por aqueles que se empenham em aprender e o segundo pelos que procuram obter boa qualificação, reputação e evitar castigos. Os alunos do primeiro grupo são aqueles que definem metas de aprendizagem e tem bom desempenho, boas notas e motivação. Os alunos do segundo grupo, quando não atingem bons resultados, se frustram e negativamente, se desmotivam.

 

A motivação e os problemas de aprendizagem

 

Para entender melhor a motivação implicada nos dois grupos de alunos, Lourenço e Paiva (2010) recorreram à Teoria da Autodeterminação (TA). A partir dela é possível compreender que “… os objetivos subjacentes à motivação são diferentes (…) e são um continuum entre motivação intrínseca e a motivação extrínseca (…), dependendo do nível de interiorização que o sujeito faz das suas experiências.” (p.136)

A motivação intrínseca é caracterizada pelos autores, a partir de estudos da literatura específica, como uma tendência natural para a procura da novidade, do desafio e do exercício das próprias aptidões. Trata do empenho dedicado à uma determinada tarefa envolvida de interesse e criadora de satisfação. A partir da TA, eles indicam três necessidades psicológicas inatas que são inerentes à motivação intrínseca: a necessidade de autonomia; a necessidade de competência; a necessidade de pertencimento e de vínculos. 

Quando o indivíduo apresenta essas necessidades tende a realizar uma atividade porque acredita que faz por vontade própria e não porque é obrigado. Estabelece metas pessoais, identifica a necessidade de fazer ajustes, observa contrariedades e planeja ações para concretizar seus objetivos avaliando adequadamente o progresso que faz.

Com outra perspectiva, a motivação extrínseca é caracterizada pela busca de compensações externas e sociais na realização de uma tarefa. O aluno motivado extrinsecamente interessa-se por opiniões de outros e efetua suas atividades objetivando agradar professores e pais a fim de obter recompensas, reconhecimento e evitar punições.

Considerando o contexto escolar a motivação extrínseca, majoritariamente, é mais frequente e necessária. Conforme os autores, a diversidade de abordagens de um assunto torna a tarefa escolar mais especializada requerendo assim maior motivação e concentração para melhor promover a aprendizagem. 

Assim, entendem que a motivação é afetada por incentivos intrínsecos e extrínsecos porque é inconcebível agirmos de modo totalmente independente de influências externas nas situações da vida quotidiana. (p.137)

 

A motivação e os problemas de aprendizagem

 

Apoiando-se na concepção vygotskyana de que o processo de aprendizagem pode ser definido a partir de como os sujeitos adquirem novos conhecimentos e modificam seu comportamento considerando sua experiência, a observação e prática motivada, os autores indicam que é muito importante que as tarefas escolares sejam elaboradas e propostas considerando que 

… tarefas enfadonhas, rotineiras e sem apelo à motivação, isto é, que não tem em conta os desejos dos alunos, tendem a ser assimiladas com mais dificuldade. Por outro lado, as que vão ao encontro de seus interesses ou atendem à sua realidade são per si interessantes levando-os a realizar as tarefas, a participarem de uma forma motivada e, consequentemente possibilitam uma aprendizagem efetiva. (LOURENÇO E PAIVA, 2010, p.134)

 

 

Ainda, a partir de Vygotsky, os autores indicam a importância de se considerar que o pensamento propriamente dito é produto da motivação, dos interesses, desejos e necessidades de cada indivíduo. Portanto, a tendência afetivo-volitiva inerente a cada pensamento invalida o estudo das dificuldades de aprendizagem que não consideram os aspectos afetivos. Será fundamental considerar uma análise das relações afetivas e do contexto emocional do indivíduo, anteriormente ao planejamento da ação pedagógica, porque a aprendizagem requer considerar perspectivas mais amplas que o planejamento de tarefas cognitivas. 

Por isso, a escola deve concentrar esforços na motivação de seus alunos, estimulando e ativando recursos cognitivos. Mas, mesmo sendo essencial para o processo de aprendizagem, a motivação não pode ser excessivamente valorizada porque acarretaria danos aos alunos. Conforme os autores, é importante haver um equilíbrio entre ambas. 

Martinelli e Genari (2009) problematizam o lugar da motivação no desempenho escolar. Com uma pesquisa que envolveu 150 estudantes entre 9 e 12 anos de idade, de uma escola pública do Estado de São Paulo, investigaram as relações entre desempenho escolar de alunos do ensino fundamental e suas orientações motivacionais. As autoras identificaram que na terceira série estabeleceu-se uma correlação negativa entre motivação extrínseca e desempenho escolar que apontou para a ideia de que quanto menor o desempenho escolar maior a motivação extrínseca. Em contrapartida, a correlação entre motivação intrínseca e desempenho escolar não foi significativamente evidenciada. 

 

A motivação e os problemas de aprendizagem

 

 

Advertidamente, os resultados obtidos na pesquisa, conforme o que foi observado pelas autoras, não foram suficientes para afirmar que a motivação extrínseca é responsável pelo baixo desempenho escolar porque as análises realizadas não permitem estabelecer uma relação de causa e efeito. Em suas análises elas identificaram a necessidade de aprofundamento dos estudos porque, conforme a literatura que se ocupa do assunto, a motivação extrínseca tem uma importância significativa no surgimento dos comportamentos intrinsecamente motivados. (p.19)

 

 

Evidentemente, os estudos aqui considerados colaboram para refletirmos a respeito da relação entre a motivação e os problemas de aprendizagem. Toda a prática educativa, as estratégias escolhidas pelos professores, devem possibilitar a integração de novos conhecimentos, a partir de métodos que considerem as necessidades dos alunos e que não desprezem o lugar da motivação nesse processo. 

Considerando que o problema de aprendizagem é um fenômeno que envolve uma fratura no processo do aprender, impedindo que o sujeito desenvolva sua aprendizagem dentro de suas potencialidades, que, por sua vez, causa sofrimento à criança e ao professor, traz prejuízo ao processo educacional mais amplo, apresenta-se como desafio à escola e ao educador e indica a necessidade de reflexão promotora de novas ações de todos aqueles que participam do processo educativo, a motivação pode ser um ingrediente bastante importante na resolução de um problema de aprendizagem.

Aproveitando os elementos aqui apontados pelos autores, especialmente sobre a motivação extrínseca, podemos inferir que o individuo com problemas de aprendizagem necessitará de ser estimulado a priori extrinsecamente, quando ainda não possuir os aspectos da motivação intrínseca desenvolvidos em si e assim ser capaz de alcançar o êxito escolar dentro de suas possibilidades. A contribuição que a motivação extrínseca pode oferecer na resolução de um problema de aprendizagem poderá se apoiar nas considerações elaboradas pelos autores estudados de que a motivação extrínseca pode contribuir para o desenvolvimento de comportamentos intrinsecamente motivados dentre os quais destacamos a condição de assumir a procura da novidade, do desafio e do exercício das próprias aptidões, desenvolvendo a autonomia em seu processo de aprender.

Assim sendo, não podemos desconsiderar que os processos oferecidos no contexto escolar para a resolução de um problema de aprendizagem devem ser sugeridos levando em conta os desejos, interesses e a realidade desse individuo, promovendo, pela motivação extrínseca, o desenvolvimento de comportamentos intrinsecamente motivados.

Nessa perspectiva a motivação está diretamente relacionada aos problemas de aprendizagem. Ela pode contribuir significativamente para a sua resolução.

 

Referências

PAIN, S. Aprendizagem e educação, Dimensões do processo de aprendizagem, Condições internas e externas da aprendizagem, O problema de aprendizagem: fatores. In: Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem. Porto Alegre, Artes Médicas, 1986, p. 11-33.

LOURENÇO, Abílio Afonso. PAIVA, Maria Olímpia Almeida de Paiva. A motivação escolar e o processo de aprendizagem. Ciência e Cognição, 2010, vol. 15 (2), p. 132-141. Disponível em http://www.cienciasecognicao.org Acesso em 30/04/2017

MARTINELLI, Selma de Cássia. GENARI, Carla Helena Manzini. Relações entre desempenho escolar e orientações motivacionais. Estudos de Psicologia, 14(1) Janeiro-Abril-2009, p.13-21. Disponível em http://www.scielo.br/epsic Acesso em 30/04/2017

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